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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Análise de especialistas: Ciências da Natureza

Biologia
Por Fábio Levi de Oliveira, biólogo, licenciado pela Unicamp. É autor de materiais didáticos, consultor do Sistema UNO de Ensino e professor do ensino médio e de cursos pré-vestibulares.

Avaliação crítica
(baseada na observação da prova amarela)

Como característica do Enem, boa parte das questões de Ciências Naturais envolveu problemas ambientais. Esse tema é comum à Biologia, à Geografia e à Química ambiental.

Algumas questões exigiam memorização de conteúdos, mas a maior parte, raciocínio ou interpretação. Algumas exigiam interpretação e raciocínio (49 e 55), outras, memorização e raciocínio, como a 62. A questão 69, por exemplo, podia ser resolvida se o aluno se lembrasse das substâncias ou raciocinando e comparando o nox do gás oxigênio com as outras substâncias.

Ainda há de se salientar que algumas questões, como a 55 (sobre serrapilheira) e a 64 (Lamarckismo), podem ter mais de uma interpretação, tanto que vários colegas responderam de formas diferentes. Para chegar à resposta mais correta era preciso raciocinar bem entre as duas alternativas “possíveis”.

O nível de dificuldade das questões estava bem distribuído, entre fáceis, médias e difíceis. As questões que exigiram raciocínio não o fizeram de modo muito complexo, mas com boa aplicação. Algumas questões que exigiram interpretação foram mais trabalhosas, pois além do enunciado era preciso interpretar muito bem as alternativas.

As questões de Biologia exigiram grande número de habilidades. A mais exigida foi em H19 e H29, seguida de H3, H17 e H28; já as habilidades não verificadas foram: H1, H2, H8, H11, H13, H16, H18, H22, H23 e H25.

Neste ano, a prova equilibrou raciocínio, interpretação e memorização de conteúdos. Não houve cobrança de interpretação de gráficos ou tabelas em Biologia. A questão 90 exigiu a interpretação de um esquema de experimento não muito complexo, mas que requereu capacidade de observação e interpretação pelos candidatos.

Considerando que tradicionalmente os examinadores abordam questões ambientais, que envolvem Biologia, Geografia e Química ambiental, pode-se dizer que houve interdisciplinaridade entre essas três disciplinas. No entanto, a interdisciplinaridade como necessidade de conhecimento de várias áreas na resolução de uma situação-problema não foi constatada na prova.

O exame deste ano ficou parecido com os exames vestibulares de primeira fase e permitiu classificar os candidatos que concorrem a algumas carreiras de grande procura em universidades públicas.

Classificação Número de questões no Enem 2010

Moléculas, células e tecidos

Estrutura e fisiologia celular: membrana, citoplasma e núcleo 1
Biotecnologia 1
Principais tecidos animais e vegetais 1

Identidade dos seres vivos Item Número de questões no Enem 2010
Sistemática e classificação 1

Ecologia e ciências ambientais

Níveis de organização 1
Fluxo de energia no ecossistema 3
Exploração e uso de recursos naturais 3
Biogeografia 1
Noções de legislação ambiental: água, florestas, unidades de conservação; biodiversidade 1

Origem e evolução da vida Item Número de questões no Enem 2010
Teorias de evolução 1

Qualidade de vida das populações humanas

Principais doenças que afetam a população brasileira 2
Aspectos sociais da biologia 1

Física
Por José Roberto Braz Paião, doutor em Física pela USP e professor do colégio Ítaca, do cursinho da Poli e das Faculdades Oswaldo Cruz.

Avaliação crítica
(baseada na observação da prova azul)

Esperava-se mais da prova de Ciências da Natureza do Enem 2010. A partir de 2009, de acordo com a nova proposta, além de habilidades, conhecimentos prévios passariam a ser exigidos. De fato, em 2009 isso ocorreu, com algum problema aqui e outro ali, mas a prova mostrava uma nova identidade. Em 2010, criou-se a expectativa de que haveria uma evolução, com questões bem elaboradas, contextualizadas e que exigissem, ao mesmo tempo, conhecimentos prévios e habilidades, o que seria ideal para que o Enem se tornasse um caminho possível para um vestibular nacional.

Porém, o que se viu na parte de Física foram questões pouco contextualizadas e, em alguns casos, com enunciados confusos, como no caso da questão 52, que aborda o assunto “eficiência”. Uma que deveria ter sido evitada foi a 54, que trata do desaparecimento de uma faixa no planeta Júpiter, pois esse fenômeno ainda carece de um melhor entendimento no meio científico, como indica o próprio site usado como referência. Observe a citação:

“Os cientistas ainda não sabem o que provocou o desaparecimento da gigantesca faixa escura. A aparência de Júpiter é tipicamente marcada por duas faixas escuras em sua atmosfera – uma no hemisfério norte e outra no hemisfério sul.”

De maneira geral, o exame privilegiou a parte conceitual, mas apresentou pouca variação de conceitos. As questões de termologia e eletrodinâmica ocuparam grande parte da prova de Física. As com cálculos foram poucas e envolviam fórmulas de potência elétrica. O assunto energia e potência mais uma vez teve grande destaque, tendo sido exigido nas questões 48, 52, 68 e 70, o que não é uma surpresa – basta analisar as provas de anos anteriores. Esse assunto é um dos preferidos dos examinadores.

Aproximadamente 70 % dos testes foram de fácil resolução e, em torno de 30 %, de nível médio. Entre as habilidades associadas com a Física, podemos destacar a H21, que foi cobrada em pelo menos quatro questões, e as habilidades H17 e H5, que apareceram em duas cada uma. Tais habilidades estão relacionadas abaixo:

H21 – “Utilizar leis físicas e(ou) químicas para interpretar processos naturais ou tecnológicos inseridos no contexto da termodinâmica e(ou) do eletromagnetismo”.
H17 – “Relacionar informações apresentadas em diferentes formas de linguagem e representação usadas nas ciências físicas, químicas ou biológicas, como texto discursivo, gráficos, tabelas, relações matemáticas ou linguagem simbólica”.
H5 – “Dimensionar circuitos ou dispositivos elétricos de uso cotidiano”.

Entre as habilidades em baixa no Enem 2010 e que não foram exigidas em Física (pelo menos diretamente), podemos citar a H2 e a H20. São elas:

H2 – “Associar a solução de problemas de comunicação, transporte, saúde ou outro, com o correspondente desenvolvimento científico e tecnológico”.
H20 – “Caracterizar causas ou efeitos dos movimentos de partículas, substâncias, objetos ou corpos celestes”.

Pode-se dizer que em Física o Enem precisa de alguns ajustes em relação ao rigor científico de certos testes. É necessário também exigir habilidades por meio de uma variedade maior de assuntos importantes para a disciplina, como conservação da quantidade de movimento, ondas, leis de Newton, entre outros assuntos, para que a prova atinja alto grau de qualidade.


Classificação

O movimento, o equilíbrio e a descoberta de leis físicas Item Número de questões no Enem 2010
Aspectos quantitativos das reações químicas 2

Energia, trabalho e potência Item Número de questões no Enem 2010
Energia 2

Oscilações, ondas, óptica e radiação
Item Número de questões no Enem 2010
Óptica geométrica 1
Fenômenos ondulatórios 1

Fenômenos elétricos e magnéticos
Item Número de questões no Enem 2010
Carga elétrica, campo elétrico e potencial elétrico 1
Resistência elétrica e resistividade 1
Relações entre grandezas elétricas 1
Corrente elétrica 1

O calor e os fenômenos térmicos
Item Número de questões no Enem 2010
Calor 1
Mudanças de estado físico 1

Química

Por Ivan Luiz de Freitas, licenciado em Química pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo. Professor de Ensino Fundamental 2, Ensino Médio e curso pré-vestibular.

Avaliação crítica
(baseada na observação da prova branca)
O Enem 2010 trouxe um número de questões de Química consideravelmente maior do que os anos anteriores. Nas edições passadas, as que abordavam exclusivamente o conteúdo dessa disciplina eram bem reduzidas, ao passo que, nesta, cerca de 50% das questões da Prova de Ciências da Natureza e suas tecnologias refletem conceitos vistos quase que exclusivamente na área de Química.

O maior número de questões relacionadas à disciplina também contribuiu para o aumento na abrangência do conteúdo cobrado. Se no ano passado houve uma distribuição irregular (com diversas questões atreladas a conceitos de energia, por exemplo), em 2010 houve testes de Físico-Química, como aqueles que envolvem soluções, termoquímica e eletroquímica (67 e 71), entre outros. Embora assuntos tradicionais presentes no Ensino Médio, como Cinética Química e Equilíbrio Químico, tenham sido deixados de lado, a seleção dos conteúdos cobrados parece uma grande evolução, tendendo a beneficiar o aluno com maior nível de conhecimento.

Além disso, a interdisciplinaridade caiu bastante e não era necessário um conhecimento verdadeiramente integrado para resolver cada um dos testes presentes na prova. Havia poucas exceções em relação a isso, como as questões 54, 55 (essa com pelo menos mais três respostas que poderiam ser consideradas corretas) e 59, associadas a meio ambiente. Outra questão considerada interdisciplinar é a 58, que poderia ser resolvida com base no que se aprende em Química e em Física durante o Ensino Médio.

Mais uma grande diferença entre as provas do Enem de 2009 e 2010 é que, nesta última, poucos testes ofereciam a possibilidade de ser feitos apenas com base nos textos fornecidos – ao contrário da anterior, na qual várias questões poderiam ser resolvidas por meio da pura interpretação de texto.

O grau de dificuldade das questões, em média, subiu bastante, assim como o número de cálculos necessários à resolução de algumas delas. Se por um lado os alunos bem preparados não devem ter encontrado dificuldade na maior parte das questões, aqueles que estudaram para um tipo de prova como a do ano anterior devem ter esbarrado em grande dificuldade, em particular os alunos cujas escolas não preparam para o Enem dando ênfase à revisão de todo o conteúdo do Ensino Médio.

Três questões merecem atenção em relação à formulação: a já citada 55, que tem mais de uma resposta correta; a de número 62, alvo de reclamações (talvez bastante merecidas) de diversos alunos que não conseguiram fazer a analogia necessária; e a 82, que envolvia troca iônica, assunto raramente abordado ao longo do Ensino Médio.

Embora ainda apresente alguns problemas quanto à elaboração de questões e à distribuição de conteúdo, a prova do Enem 2010 pode ser considerada uma versão melhorada e, apesar de o foco ser diferente, esta última edição trouxe uma forma mais semelhante àquela apresentada pelos principais vestibulares do país. Se levarmos em conta que ambos incluem o conteúdo ministrado nas escolas, talvez não seja um aspecto negativo. Afinal, uma vez que o Enem não é mais utilizado apenas para avaliar o Ensino Médio, mas também para selecionar candidatos ao mundo acadêmico, era necessário que sofresse alterações.

Classificação Número de questões no Enem 2010

Representação das transformações químicas
Aspectos quantitativos das reações químicas 2

Materiais, suas propriedades e usos
Misturas: tipos e métodos de separação 1

Água

Solubilidade e concentração das soluções 2
Ácidos, bases, sais e óxidos 1

Transformações químicas e energia

Transformações químicas, equações termoquímicas e energia calorífica 3
Calor de reação, entalpia e Lei de Hess 2
Transformações químicas e energia elétrica 3

Transformação química e equilíbrio químico

Fatores que alteram o sistema em equilíbrio e aplicação da velocidade e do equilíbrio químico no cotidiano. 1
Kw, equilíbrio ácido-base, pH, hidrólise e Kps 1

Compostos de carbono

Características gerais, estruturas e propriedades dos compostos orgânicos 1
Estrutura e propriedades das principais funções orgânicas 2

Relações da química com as tecnologias, a sociedade e o meio ambiente

Química no cotidiano – agricultura, saúde e alimentos 3
Poluição e tratamento da água, poluição atmosférica, contaminação e proteção do ambiente 4

Energias químicas no cotidiano

Combustíveis fósseis 1

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