História
Por Aldo Moreira, bacharel e licenciado em História pela FFLCH-USP e bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). Professor de Ensino Fundamental 2, Ensino Médio e curso pré-vestibular.
A prova premiou a simplicidade e a literalidade dos enunciados, marcando pela objetividade, mas sem abrir mão da profundidade dos conteúdos. Apesar das falhas de ordem burocrático-procedimentais, bem noticiadas pela mídia, no que tange à parte de História, o Enem deste ano foi virtuoso por abordar com tranquilidade alguns temas polêmicos.
De forma geral, a área de humanidades resvalou – em todas as questões – em fatores humanos e, portanto, históricos. Dentro de História, especificamente, tivemos 27 questões, das quais 16 abordaram assuntos brasileiros, o que corresponde a praticamente 60% dos testes dessa disciplina. Os examinadores cobraram reflexões sobre o tema transversal da cidadania e houve predomínio de assuntos brasileiros relacionados imediatamente à democracia e à cidadania.
A prova foi coerente com as circunstâncias históricas atuais, com o Brasil ocupando importante espaço no cenário político e econômico mundial. Nesse sentido, algumas questões de História Geral serviram de ponte para a interpretação de um tema posterior. Um exemplo disso foram as duas que abordaram o papel da industrialização na desorganização das relações sociais estabelecidas pela economia manufatureira na Inglaterra do século XIX.
Na sequência, o examinador trouxe uma questão sobre o mesmo problema: a desorganização da vida econômica e social local em função do avanço capitalista, mas levando a atenção do vestibulando para o espaço brasileiro, a chamada região do Contestado (fronteira dos estados do Paraná e de Santa Catarina). Interessante relação foi apresentada em uma das questões, mostrando a conivência do judiciário com o desaparecimento de cerca de dez mil pessoas durante a ditadura militar do Chile.
Em outro momento, o examinador foi ousado ao apresentar o dado de que mais de uma centena de homossexuais foram assassinados no Brasil no ano de 2009, relacionando este tema social atual com suas raízes na demonização do corpo, relatada em documentos históricos do século XVIII. Os organizadores poderiam ter sido mais ousados ainda se fizessem em seguida uma questão sobre o período da rainha Vitória, da Inglaterra, fonte cosmopolita do conservadorismo e da repressão sexual no século XIX.
Ainda neste diapasão de análise crítica, uma das questões desvelou a aura desenvolvimentista dos anos do presidente Juscelino Kubitscheck, governante tido por décadas como referência intocável de bom administrador. A relação marcante do desenvolvimentismo dependente trouxe uma crise, iniciada no Brasil na década de 1950. A pior consequência foi a aceleração inflacionária, que levou a perdas econômicas da população, culminando anos mais tarde no golpe militar de 1964.
Outras questões apareceram muito bem posicionadas no quadro geral da prova, como a que cita o filósofo francês Michel Foucault e sua reflexão sobre o nascimento das leis e da política por meio do poder, da guerra e da força bruta. Também digna de nota é a excelente questão de teoria da História que lembra uma famosa citação do dramaturgo Bertold Brecht, chamando à razão aqueles que não veem os verdadeiros autores da História e evidenciando o papel das grandes massas de trabalhadores anônimos, esquecidas e sem honra, em detrimento das figuras celebrizadas pela chamada “História oficial”. Se tivéssemos de citar alguma questão menos complexa, poderíamos usar a que se que refere à organização social e política do Império Inca na América do Sul.
Um dos principais objetivos do estudo de História é a descoberta das relações humanas por trás dos fatos. Trata-se de um posicionamento que libertou o professor e o aluno da velha História factual, maçante e engessada, e abriu possibilidades para a tão desejada reflexão e a cidadania. Tiveram este mérito os examinadores que elaboraram este teste. Como esperado, a prova não fugiu às exigências niveladas para o Ensino Médio, apimentada com temas polêmicos e controvertidos.
Tendências
* Reconhecer e vincular historicamente fatos sociais veiculados pelos meios de comunicação à construção do pensamento hegemônico de dada sociedade e não a causas naturais.
* Reconhecer e vincular historicamente fatos sociais veiculados pelos meios de comunicação à construção do pensamento hegemônico de dada sociedade e não a causas naturais.
* Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de exclusão social.
Associar o papel das coletividades aos movimentos sociais nas mudanças históricas.
* Identificar aspectos da preservação arqueológica e da paisagem.
* Analisar as sociedades antigas em sua organização social e política.
* Identificar e analisar momentos específicos da História para a consolidação da estrutura social existente.
Classificação Número de questões no Enem 2010
Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade
Cultura material e imaterial; patrimônio e diversidade cultural no Brasil 2
A conquista da América 1
Movimentos culturais no mundo ocidental e seus impactos na vida política e social 2
Os domínios naturais e a relação do ser humano com o ambiente
Geologia 2
Formas de organização social, movimentos sociais, pensamento político e ação do Estado
Os grandes processos revolucionários do século XX 1
Formação territorial brasileira 2
Brasil e América nos séculos XIX e XX 7
Geopolítica e conflitos nos séculos XIX e XX 1
O desenvolvimento do pensamento liberal na sociedade capitalista e seus críticos nos séculos XIX e XX 2
A luta pela conquista de direitos políticos, sociais, civis e humanos 1
Vida urbana 1
Formas de organização social, movimentos sociais, pensamento político e ação do Estado
Diferentes formas de organização da produção 2
Produção e transformações dos espaços agrários 2
Revolução Industrial 2
A globalização e as novas tecnologias de telecomunicação e suas consequências econômicas, políticas e sociais 2
Representação espacial
Projeções cartográficas 1
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